Decapando até debaixo d'água (Local: Palhoça, SC; foto: L. Duran, 2008)

quinta-feira, 31 de maio de 2012

Arqueologia em àguas profundas

A indústria de exploração do petróleo em águas profundas vem proporcionando experiências sem igual com o descobrimento de naufrágios que poderiam ser estudados a partir de abordagens de Arqueologia subaquática.

Naufrágio do século XIX localizado no Golfo do México (veiculada pelo A Blog About History):

Naufrágios da Antiguidade localizados em área de futuro duto (também veiculada pelo A Blog About History):

Isso é um importante aviso para a Arqueologia brasileira em tempos de exploração do petróleo da camada Pré-Sal. Muitas dúvidas sobre o passado da Terra Brasilis poderiam ser sanadas no fundo do mar.

domingo, 13 de maio de 2012

Se você, universitário, for para Miami fazer compras...

... talvez essa escavação subaquática de um sítio-escola, em junho, em Saint Augustine, Flórida, possa ampliar seus horizontes culturais!

Na Espanha o problema são os caçadores de suvenires

Xavier Nieto, diretor do ARQVA diz em entrevista que o maior problema para o Patrimônio Cultural Subaquático em águas espanholas são os mergulhadores que coletam peças como suvenires de suas imersões.


Para mais detalhes, clique: http://www.abc.es/agencias/noticia.asp?noticia=1166502

terça-feira, 8 de maio de 2012

O naufrágio do Recreio (1971): sucata ou sítio arqueológico?

Os vestígios do navio Recreio, encalhado em Santos, são sucata ou um sítio arqueológico de naufrágio? Essa pergunta simples é, na verdade, de difícil resposta.
O Recreio foi um navio-boate (sim, um navio sem motor preparado para festas!) que, em 1971, durante um forte temporal, rompeu suas amarras e acabou encalhando próximo ao Canal 6. Um ano e meio depois foi parcialmente desmontado, dinamitado e arrastado para fora da praia diante da estupefação e do alivio dos santistas.
O Recreio, encalhado em Santos (1971). Extraído do site Novo Milênio: http://www.novomilenio.inf.br/santos/fotos267.htm em 08/05/2012.
A operação de remoção, entretanto, deixou parte da estrutura do casco enterrada na areia. Com a erosão da praia, segundo artigo publicado no Almanaque de Santos (IHGS/ Sabesp, ano 1, nº 3, 2011), a partir de 1999 os destroços remanescentes, desenterrados, passaram a vitimar os banhistas. Anos mais tarde o local foi sinalizado e a prefeitura, em 2006 começou a remover pedaços de metal nas marés baixas.
Até aqui não haveria o porquê do questionamento da remoção do restante do casco do navio: ele causa problemas à balneabilidade daquele trecho da praia. Mas é a história pregressa do Recreio que provoca um segundo olhar sobre essa ação.
O navio iniciou seus trabalhos como Carl Hoepcke, mandado construir pela Empresa de Nacional de Navegação Hoepcke, na Alemanha, em 1926. A sofisticada embarcação serviu à empresa catarinense de 1927 a 1960, época em que realizou a cabotagem entre os portos de Santa Catarina e o Rio de Janeiro.
 O Carl Hoepcke em Florianópolis. Extraído do site do Instituto C. Hoepcke em 08/05/2012 http://www.hoepcke.com.br/instituto/foto02.htm

A navegação era, então, a melhor maneira de realizar a derrota, de forma que tanto passageiros humildes, quanto passageiros proeminentes no cenário político e econômico brasileiro foram transportados pelo Carl Hoepcke, o que faz da nave um ícone na história catarinense. Assim, o Instituto Carl Hoepcke, segundo o já mencionado artigo do Almanaque, pleiteia a doação do leme do navio que, contudo, continua armazenado em um galpão em Santos.
Minha opinião é a de que o resto da embarcação é claramente um sítio arqueológico de naufrágio que, no entanto, deveria ter seu perímetro de alguma forma melhor delimitado e sinalizado, evitando que os banhistas se machuquem e que, ao mesmo tempo, permita que o público possa usufruir de um espaço musealizado. Não seria mais uma interessante atração cultural um naufrágio de um navio dos anos 1920, acessível a quem não mergulha, situado próximo ao Aquário, ao Museu de Pesca, diante do fortim da praia do Góis e da fortaleza da Barra Grande?
Foi com essa ideia em mente que, no último dia 06 de maio, por volta das 9h da manhã, no pico da maré vazante, eu, Daniela Damo, Luciana Bozzo Alves, Lucas Troncoso, Cristiane Eugênia Amarante e sua filha, a pequena Mariana, realizamos um raid aos restos metálicos do Recreio, buscando fazer medições básicas com trena e registros fotográficos que servissem para uma discussão futura da importância dos vestígios.
Luciana e Lucas medindo os vestígios do Recreio. Estão espalhados por aproximadamente 23 m de faixa de areia.

Detalhe do fundo do casco e das cavernas.

Independe da ruína do Recreio ser considerada sucata ou sítio arqueológico, ela certamente merece uma abordagem arqueológica, ou seja, sua proteção ou demolição deveria ser acompanhada e registrada por arqueólogos antes, durante e depois de qualquer ação.


Arqueologia de estaleiros: descobertas recentes & possibilidades no Brasil

Há pouco menos de dois meses postei links sobre a descoberta de um estaleiro no Cais do Sodré, em Lisboa. Eis novo link (embora para o padrão do e-tempo ele não seja tão recente):


É interessante destacar que uma das camadas da sub-base da carreira é composta por peças de embarcações reaproveitadas.

Mais ao norte, na península Limmo, Canning Town, Londres, foi revelado pelo licenciamento de uma ferrovia, um estaleiro mais recente, o  Thames Ironworks and Shipbuilding Company, cujas operações encerraram em 1912.
Nele foi construído o HMS Warrior, em 1861, o primeiro navio de guerra feito integralmente de ferro.
Mais informações nos links:



E aqui no Brasil? Haveria a possibilidade de localização de antigos estaleiros soterrados pelo avanço da linha de costa urbana? Sem dúvida!
No mês passado estive na ilha da Fumaça, em Vitória, no Espírito Santo e tive a oportunidade de tirar a foto que aparece em abaixo.

 



Provavelmente são os trilhos de uma antiga carreira de um estaleiro do século XX. Embora ela esteja parcialmente coberta por uma lage recente, outra porção dela, muito mais extensa, foi aterrada a bem mais tempo.
Esse é apenas um exemplo do que pode ser encontrado na interface terra/ água das cidades portuárias brasileiras. Então, vamos procurá-las!


sábado, 31 de março de 2012

Cais do Mercado Municipal de São Francisco do Sul, SC

São Francisco do Sul é uma cidade conhecida pelo seu patrimônio histórico, incluindo aquele que é diretamente relacionado às atividades marítimas, como, por exemplo, o Museu Nacional do Mar, instalado nos prédios e pontes que pertenceram às empresas Carl Hoepcke, construídos nos primeiros anos do século XX.

 Um dos prédios do Museu visto a partir de um píer antes utilizado pelos vapores da Hoepcke.

Outro monumento bastante conhecido é o prédio do Mercado Municipal, construído nos últimos anos do século XIX. Do conjunto de estruturas relacionadas ao mercado destaco um pequeno, mas bastante singular, cais, registrado por mim no 'distante' ano de 2007.


Vistas gerais do Mercado Municipal.





 Diversos ângulos do cais anexo ao Mercado.


 Detalhes da construção do cais.

A despeito do singelo cais estar colado ao Mercado, sua características construtivas são bastante elaboradas para ter servido às atividades diárias de carga e descarga destinadas a um centro de comercialização de gêneros alimentícios e outros produtos de consumo  de produção local e/ou regional. Seria ele mais antigo que o Mercado? Teria ele sido construído para o embarque e desembarque de passageiros? Posteriormente, teria sido ele apropriado pelo Mercado para, por exemplo, o desembarque do pescado transportado por canoas?

Essas e outras perguntas poderiam ser respondidas tanto pela investigação de documentação primária, quanto por prospecções de Arqueologia urbana e subaquática. É, sem dúvida, um bom mote para novos trabalhos acadêmicos. 

  

quinta-feira, 22 de março de 2012

Embarcações de Americana, SP

Em 2009, de passagem por Americana, o arqueólogo Paulo Zanettini registrou algumas das embarcações do acervo do Museu Histórico Pedagógico Municipal Dr. João da Silva Carrão. Um bom exemplo de como a Arqueologia Náutica pode servir de ponto de partida para estudos desenvolvido até mesmo no interior do estado.
 Pequena canoa monóxila (feita de um só tronco de árvore), com cavernas de reforço bem destacadas.

 Outro ângulo da mesma canoa, privilegiando a seção central.

Um barco de competição, bem ao gosto dos sportsmen do rio Piracicaba.




Arqueologia Marítima e subaquática em Cascais, Oeiras e Lisboa, Portugal

No mês de fevereiro foram divulgadas informações sobre trabalho de levantamento arqueológico realizado ao longo da costa de Cascais e Oeiras, na região metropolitana de Lisboa. Um dos focos principais é a área de São Julião da Barra, porta de entrada do Tejo e de Lisboa, coalhada de vestígios arqueológicos submersos. Os três links abaixo são relativos a esse trabalho.

Eis um bom exemplo de continuidade de trabalhos arqueológicos a ser seguido. Na década de 1990, o Instituto Português de Arqueologia (IPA), através do antigo Centro Nacional de Arqueologia Náutica e Subaquática (CNANS), desenvolveu pesquisas principalmente nos vestígios da nau Nossa Senhora dos Mártires, naufragada em 1606 defronte à fortaleza de São Julião.

Em 1999 tive a oportunidade de ajudar em uma das campanhas subaquáticas... meu segundo trabalho de Arqueologia subaquática... Bons tempos de promenades ensolaradas em Belém, no Bairro Alto, no Chiado, Alfama, Castelo de São Jorge, Cais do Sodré...

Bom, deixando a seção "memories, oh my memories!" de lado, mas aproveitando o gancho do Cais do Sodré, eis outra notícia muito 'gira': a recente descoberta de uma grande rampa de madeira para o reparo e a construção naval. E não foram os primeiros achados na antiga linha de costa da Ribeira, pois também na década de 1990 foram localizados vestígios de embarcação durante a escavação da estação do Metrô do Cais do Sodré, mas também na praça do Município, que fica nas proximidades.

Detalhes no link:

Para quem quiser se aprofundar sobre a Arqueologia Marítima e subaquática portuguesa sugiro pesquisar no endereço do IGESPAR (Instituto de Gestão do Patrimônio Arquitetônico e Arqueológico, herdeiro do IPA) qual relatório mais lhe apetece em baixar:

Há também o site do Ship Reconstruction Lab do Institute of Nautical Archaeology (INA), da Texas A & M University, onde há material especialmente sobre a N. S. dos Mártires, cujo projeto foi denominado Pepper Wreck, uma alusão à carga de pimenta do reino que a nau transportava (e que forma um dos estratos arqueológicos do sítio).

http://nautarch.tamu.edu/shiplab/

Por fim, já que neste blog há menos amarras acadêmicas ou comerciais para mim, vale sugerir a música dos irmãos Kleiton e Kledir, 'Vira virou'. Tem a ver com o tema da postagem... ou não!

Para a identificação: Kleiton é o de óculos.

quinta-feira, 15 de março de 2012

Localizado o quarto canhão no trabalho arqueológico do Porto Maravilha, Rio de Janeiro

Foi localizado, na semana passada, mais um canhão do século XVII durante os trabalhos arqueológicos do Porto Maravilha.

Para saber mais:
http://www.revistadehistoria.com.br/secao/reportagem/canhoes-na-mira

Segundo informações da matéria, os canhões previamente localizados estão satisfatoriamente armazenados, mas ainda não passaram por processo de conservação preventivo.

quinta-feira, 8 de março de 2012

Gravados rupestres no rio Madeira, Porto Velho, RO

Os gravados rupestres localizados em razão do licenciamento para a construção da hidrelétrica de Santo Antonio, os quais ficam submersos durante as cheias do rio, estão sendo registrados pelas equipes de arqueologia no período seco.

Para saber mais:

Vale à pena dizer que, mesmo na cheia do rio, as gravuras não estariam inacessíveis aos arqueólogos, dependendo das condições de mergulho do local. Caso fosse necessário, os gravados eventualmente poderiam ser registrados com técnicas tradicionais de Arqueologia subaquática e levantamento rupestre.  Evidentemente não se poderia utilizar a tecnologia de escaneamento 3D... ainda!

Enfim, para quem quiser mais informações sobre o assunto, sugiro ver a minha última postagem sobre o porto das Lajes, construção que poderia eventualmente afetar gravados rupestres no rio. Outra opção é ler o artigo disponível no endereço:


que trata do levantamento de gravados no rio Trombetas, PA, em 2004.


Continua a polêmica sobre o porto das Lajes, em Manaus, AM

Extraído do site Portos e Navios

"Sexta, 24 de Fevereiro de 2012, 07:10
Paisagem típica da Amazônia, o local onde os rios Negro e Solimões se encontram pode ser em breve modificado. Atraída pela demanda ocasionada pela expansão da Zona Franca de Manaus, a operadora logística de capital aberto Log-In (cujo maior acionista é a Vale, com 31% da participação total) pretende investir cerca de R$ 200 milhões na construção de um porto na área do chamado Encontro das Águas - onde os dois rios, um claro e outro escuro, "brigam" por espaço. O projeto do terminal deflagrou na região um conflito entre a necessidade de infraestrutura e a de preservação ambiental e acabou parando na Justiça. Se do ponto de vista logístico a localização do Terminal Portuário das Lajes é perfeita, por estar ao lado de grandes indústrias da capital manauara, para ambientalistas e moradores não poderia ser pior.

Quando o espelho do rio Negro desce da copa das árvores da mata fechada e se recolhe em época de seca, é revelada parte da importância histórica da região das Lajes - tão defendida nos discursos de pesquisadores. Antes ocultas sob as águas turvas, ficam à mostra as chamadas "oficinas", onde povos antigos afiavam seus instrumentos de caça e de gravura. Outros elementos do sítio arqueológico só foram descobertos em 2010. No ano de uma das mais fortes secas da história da Amazônia, arqueólogos descobriram nas pedras mais distantes das margens desenhos rupestres de rostos humanos e outras gravuras que lembram o redemoinho causado pelo encontro dos dois rios. Segundo os pesquisadores da Universidade Federal do Amazonas (UFAM) Elena Franzinelli e Hailton Igreja, as inscrições têm idade entre dois mil e sete mil anos.

Na visão dos pesquisadores, a região integra um conjunto de cenários que podem servir de revisão geral sobre a história da ocupação da Amazônia. Pesquisadores defendem que em toda a bacia, incluindo as áreas adjacentes aos grandes rios, há sinais de que a região foi densamente ocupada nos milênios que antecederam a chegada dos europeus ao novo mundo. A ideia se contrapõe ao que antes era considerado quase um consenso dentre os acadêmicos - de que a Amazônia era pouco habitada por seres humanos e não tinha civilizações organizadas com grande número de integrantes.

Eduardo Góes Neves, presidente da Sociedade de Arqueologia Brasileira que elaborou parecer técnico favorável ao tombamento do local, diz que dentre os sinais que dão outra concepção à história está a construção de grandes figuras geométricas no chão, conhecidas como geoglifos, nos Estados do Acre, do Amazonas e de Rondônia. "Em muitos desses contextos, além do mais, as estruturas são acompanhadas por objetos de cerâmica e pedra de alta qualidade estética", diz.

Graças aos sítios arqueológicos e a outros aspectos - o local é um dos principais atrativos paisagísticos e turísticos da região -, o Instituto de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan, órgão vinculado ao Ministério da Cultura) aprovou em novembro de 2010 o tombamento da região do Encontro das Águas, por unanimidade de seus conselheiros. Com isso, ficaria impedida a construção de uma obra como a do porto das Lajes no perímetro protegido.

Quase um ano depois, entretanto, a Justiça Federal no Amazonas tomou uma decisão inusitada: "derrubou" o tombamento feito pelo governo federal. A decisão foi tomada em caráter liminar pelo juiz Dimis da Costa Braga, titular da 7ª Vara da Seção Judiciária do Amazonas, que acolheu um pedido do governo do Estado do Amazonas. A justificativa foi que o processo não teve audiência publicas.

O Iphan se defende dizendo que o processo de tombamento não precisa passar por esse processo. Em setembro de 2011, o órgão impetrou ação de suspensão de liminar contra a decisão no Tribunal Federal da 1ª Região em Brasília, por meio da Procuradoria-Geral Federal e da Advocacia Geral da União.

Paralelamente, o Ministério Público Federal tenta impedir a construção do porto por meio de uma ação civil pública. O mesmo juiz que havia derrubado o tombamento acolheu o pedido em outubro do ano passado, em caráter liminar, e impediu intervenções no local - como construção, terraplanagem e desmatamento - até posterior autorização judicial. Braga determinou a proibição por considerar necessária a realização de mais estudos e considerar que o eventual início das obras traria "alterações irreversíveis".

Mesmo causando certo alívio, a decisão ainda é alvo de preocupação entre os que são contrários ao projeto. Isso porque foi designada uma comissão de peritos para delimitar a área que pode ser definida como monumento natural - e, dependendo do que for decidido, o porto poderia ficar na área externa ao perímetro tombado. A comissão é composta por um geógrafo, um geólogo, um arquiteto, um antropólogo, um arqueólogo e um paisagista. Segundo o juiz, os integrantes foram escolhidos por ele - sendo um deles participante da equipe que elaborou o Estudo e Relatório de Impacto Ambiental (o chamado EIA/Rima, necessário para solicitar licenças ambientais) do projeto. "Esse integrante foi trocado posteriormente. São todos estudiosos respeitados", diz ele.

A superintendência do Iphan comentou o empreendimento por meio de nota enviada à reportagem, se dizendo contrária ao empreendimento. "A operação portuária impactará diretamente o bem tombado, considerando o porte das embarcações envolvidas, a quantidade de carga prevista para ser transportada e as movimentações necessárias à atividade, no justo ponto do ápice de ocorrência do encontro dos rios Negro e Solimões", diz o texto.

Além de estar paralisado pela Justiça, o porto está com sua solicitação parada na Agência Nacional de Transportes Aquaviários (Antaq) porque a Log-In não apresentou todos os documentos necessários à solicitação de implantação do empreendimento. Para a implantação de terminais de uso privativo, as empresas devem fazer o requerimento à Antaq e apresentar uma lista de documentos - dentre os quais informações sobre impacto ambiental.

Procurada repetidas vezes pelo Valor, a Log-In preferiu não comentar o assunto. O EIA/Rima elaborado pela empresa Liga Consultores defende que outras quatro localizações foram cogitadas para a implantação do porto. "A localização proposta para o empreendimento é estratégica, uma vez que se insere na porção mais oriental da cidade de Manaus, com baixa interferência no tráfego urbano de veículos, possibilitando que os navios de carga que atracarão no terminal evitem passar por toda a orla da cidade", diz o texto.

Enquanto a questão corre na Justiça, movimentos da sociedade civil organizada discutem o projeto e avaliam os impactos que o empreendimento pode ter. Moradores, ambientalistas, além de professores e estudantes da Universidade Federal do Amazonas (UFAM) criaram o movimento SOS Encontro das Águas - que luta pela preservação do local e tem como uma de suas principais bandeiras a posição contrária à instalação do porto da Log-In.

Um de seus coordenadores, José Ademir Gomes Ramos, professor da UFAM, ataca o projeto baseado no argumento de que, além da importância história e paisagística, a fauna aquática será prejudicada na região. O chamado Lago do Aleixo, alagado em época de cheia, é um refúgio para peixes se procriarem e se alimentarem. O local de entrada de água do lago, que nutre toda a comunidade do chamado Bairro Colônia Antonio Aleixo, fica justamente na região do empreendimento.

A defesa do local também tem o apoio de um grupo de antigos internados no centro de tratamento de portadores de hanseníase da região, criado na década de 1930. Na chamada Colônia Antônio Aleixo, batizada assim como homenagem a um dos primeiros médicos a trabalhar no local - e posteriormente o nome do bairro -, foram internados pelo governo os portadores da doença. Com o fim do chamado leprosário, em 1978, a vida recomeçou do zero para a maioria. Sem dinheiro, sem comida e sem ter para onde ir, muitos resolveram ficar por ali mesmo. Hoje, eles defendem a preservação da região do bairro onde cresceram e atualmente vivem. Assustada com o novo porto no Aleixo, Maria do Carmo Amorim, 78 anos, elenca uma série de argumentos, sempre intercalados por comentários religiosos: "Se Deus quiser, não vai sair".

Fonte [original]: Valor Econômico/Fábio Pupo | De Manaus e São Paulo"

Navegação neanderthal no Mediterrâneo?

Notícia do A Blog About History.

Há, de fato, algumas evidências sobre isso: artefatos lascados em ilhas próximas ao continente, mas também em Creta. Vale à pena refletir sobre o assunto:

http://www.newscientist.com/article/mg21328544.800-neanderthals-were-ancient-mariners.html

terça-feira, 6 de março de 2012

Admirável antigo Novo Mundo

Notícia sobre conjuntos de evidências - sérios - que apontam para mais uma provável via de colonização da América.


Com o avanço das descobertas arqueológicas, do processamento de dados, das interpretações dos resultados e da percepção de que a ciência é construída por paradigmas mutáveis e não por dogmas, enxergaremos que o 'descobrimento' do Novo Mundo pode ter ocorrido antes do que se imaginava há 50 anos atrás e que a via marítima teria sido uma alternativa plausível para esse e outros deslocamentos pré-históricos.   

Enterramentos da Toca da Caveira, ilha de Búzios, Ilhabela, SP

No início de fevereiro foram localizados pelo menos cinco enterramentos pré-coloniais na recém batizada Toca da Caveira, na ilha de Búzios, município de Ilhabela, Litoral Norte de SP. Após estudos laboratoriais a equipe de arqueologia chegou à conclusão de que se tratavam de indivíduos provavelmente de origem Macro-Jê, ou seja, colonizadores cronologicamente posteriores aos povos sambaquieiros, estes sabidamente versados na faina náutica.

O interessante dos achados é que eles proporcionam mais evidências das capacidades de marinharia desses povos indígenas imediatamente anteriores à chegada do europeu, pois não haveria outra forma de se chegar à ilha de Búzios senão por embarcações apropriadas para mar aberto.

Mais notícias no link do jornal Imprensa Livre:

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

Área portuária do rio Itiberê, Paranaguá, PR

Essas fotos são de 2007 e mostram um pouco da fachada portuária oitocentista e do início do século XX de Paranaguá, no estado do Paraná.


Antes da transferência das atividades portuárias principais para o porto D'Água, depois chamado de Dom Pedro II, isso a partir da década de 1860, o porto de Paranaguá funcionava no rio Itiberê, na fachada leste do hoje Centro hitórico. Hoje ele ainda funciona para atividades turísticas náuticas.
Nesta postagem apresento algumas fotos que registram a fachada portuária dos séculos XIX e XX. As estruturas portuárias mais antigas hoje não estão mais visíveis, sendo representadas pelo arruamento e pelas edifficações mais antigas, tais como as igrejas e o antigo convento jesuítico.

Perto do Mercado Municipal



Essa parte foi aterrada e hoje o mar fica bem distante, mas as estruturas portuárias antigas foram parcialmente mantidas, criando-se uma espécie de monumento incorporado a essa grande praça. É pena que o espelho d'água estivesse um tanto quanto sujo à época.



Note-se as pedras da antiga beira do cais, junto ao espelho d'água, arrematando o muro de saneamento.


Ao longo da rua General Carneiro



As pedras de arremate da beirada do cais, semelhantes àquelas junto ao Mercado.

Escada de acesso às embarcações pequenas.

 Argola para a amarração das embarcações, muito desgastada.

Ao fim da rua, na intersecção com a rua XV de Novembro, há um guindaste manual, talvez um dos últimos no Brasil.



Os canhões encontrados no porto do Rio de Janeiro

Semana passada foram desenterrados dois canhões, provavelmente de fins do século XVI ou início do século XVII, durante os trabalhos arqueológicos nos arredores do porto do Rio de Janeiro, dentro do projeto intitulado Porto Maravilha. Eis um dos muitos links para mais informações sobre o achado:

http://extra.globo.com/noticias/rio/arqueologos-acham-canhoes-de-pelo-menos-400-anos-na-zona-portuaria-3966265.html

Apesar da grande importância do achado, esse não foi um fato isolado. Muitos canhões já foram encontrados, no Brasil e no mundo, durante obras de escavação. A razão de muitos canhões terem sido enterrados - e, às vezes, lançados ao mar - é que, uma vez obsoletos, eles não podiam ser utilizados para os fins de combates regulares, mas, ainda assim, poderiam ser eventualmente disparados. Ou seja, continuavam a ser armas.
Vejamos alguns outros exemplos de canhões desenterrados:

Canhão português encontrado na Austrália:
http://www.ionline.pt/opiniao/sorte-canhao-enterrado-na-areia-natal

Canhão encontrado na Paraíba:
http://www.panoramio.com/photo/14636036

Canhão encontrado na fortaleza da Barra Grande, no Guarujá, SP, nos anos 80:
http://www.novomilenio.inf.br/guaruja/gh013g.htm

Canhões encontrados durante obras na praça Esteves Jr., Beira Mar Norte, Florianópolis, SC:
http://www.guiafloripa.com.br/turismo/centro/pontos_turisticos.php3

Polêmica, muitos anos depois, na mesma região da capital catarinense, sobre outro suposto canhão enterrado:
http://wp.clicrbs.com.br/visor/2010/11/11/misterio-do-canhao-na-praca/?topo=67,2,18,,,67

http://cangarubim.blogspot.com/2010/11/o-misterio-do-canhao-da-praia-de-fora.html  

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

Tesouro com 3 bilhões em platina no Atlântico Norte? Muita calma nesta hora.

Prezados leitores, muita calma nesta hora. Nesses tempos de pujança econômica dos países ditos em desenvolvimento, e de desespero econômico em alguns países ditos desenvolvidos, muito tem se falado a respeito de promessas financeiras submersas ao alcance dos empreendedores audazes. Peço calma, porque isso não é novidade na história do mundo, sujeita a forjar heróis e bandidos de acordo com a maré. E a calma é para pensar e refletir, porque isso também é produção.
A mais recente notícia é a do navio cargueiro com 3 bilhões em platina, afundado por um u-boat em 1942, nas águas próximas aos EUA.
Peço que vocês vejam esta notícia abaixo, que explica um pouco mais sobre o caso e sobre os direitos à carga.

http://portuguese.ruvr.ru/2012/02/05/65392108.html

Além disso, gostaria de ressaltar que os naufrágios da Segunda Guerra são túmulos de guerra e são, sim, passíveis de intervenções arqueológicas e de fornecer informações para a construção de uma história mais abrangente.
Vejam exemplo de pesquisa desenvolvida há anos na Carolina do Norte, EUA (fonte: A blog about history).

http://www.smithsonianmag.com/history-archaeology/Diving-for-the-Secrets-of-the-Battle-of-the-Atlantic.html#ixzz1lA0uVcQ8

domingo, 29 de janeiro de 2012

Porto de Barra do Itapemirim, Marataízes, ES

Essas fotos são da área do porto de Barra do Itapemirim, município de Marataízes, ES. Foram tiradas no final do ano passado. Embora o local continue a ser utilizado como porto de pesca e área de lazer/ cultura, ainda falta muito para uma revitalização completa, incluindo o restauro do edifício do Trapiche que, no mínimo, precisa de um trabalho de consolidação das ruínas.

 
Palácio das Águias restaurado

O Trapiche, em ruínas
O antigo porto de Itapemirim apresenta estruturas muito interessantes para a compreensão da dinâmica dos portos médios, pois ele teve um movimento considerável até meados do século XX – maior que o porto de Benevente (atual Anchieta), mas menor que o de Vitória. Como parte dos meios de transporte que promoveram o seu desenvolvimento temos as linhas regulares de navegação marítima a vapor – desde meados do século XIX – além de uma linha de navegação fluvial a vapor que chegava até Cachoeiro do Itapemirim.
Saiba mais sobre a navegação fluvial:
Soma-se a elas a abertura de uma ferrovia, que nas primeiras décadas do século XX conectou o porto a Marataízes, a Itapemirim (sede), às usinas de cana-de-açúcar, tal como a Paineiras, até hoje em funcionamento e, por fim, Cachoeiro.
Saiba mais sobre a ferrovia:

Estrutura do cais de pedra, na área do Trapiche

E para que tudo isso funcionasse em conjunto foram construídas estruturas, equipamentos e edificações que faziam a intermediação entre a terra e a água, entre a carga e descarga das mercadorias, entre o embarque e o desembarque dos passageiros.
Muro de pedra do cais do Trapiche

Prolongação do cais do Trapiche. Pilares para sustentar os trilhos da ferrovia?

Escada e rampa de acesso do cais do Trapiche ao rio 
Apesar do porto de Barra do Itapemirim ter essas ruínas remanescentes do cais construído sob a lógica capitalista, sobrevivem algumas atividades e paisagens que remetem a tempos anteriores.
 
Estaleiro com a igreja de N. S. dos Navegantes ao fundo
Assim, tendo como base o que ainda se pode ver no local, acredito que o porto de Barra de Itapemirim guarda um grande potencial arqueológico, tanto em sua porção emersa, quanto embaixo d’água.

segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Simpósio "Arqueologias marítimas: desafios, práticas, ética e função social"

Como parte da programação da VI Reunião de Teoria Arqueológica da América do Sul, que vai acontecer entre os dias 17 e 21 de setembro deste ano, na cidade de Goiânia, previu-se a realização de um simpósio sobre Arqueologia marítima, organizado pelos arqueólogos Leandro Duran e Gilson Rambelli. As inscrições de trabalhos vão até o dia 29 de fevereiro.

Para mais detalhes, clique:

http://vitaas.blogspot.com/p/eventos.html

Um mergulho na Arqueologia subaquática brasileira

Clique no título da postagem para ler o artigo de Gilson Rambelli, publicado no jornal Arqueologia em Debate, da Sociedade de Arqueologia Brasileira - SAB.

Um pouco de pré-história subaquática

Construção de réplica de barco da Idade do Bronze (não é exatamente pré-história):

http://www.stonepages.com/news/archives/004692.html

Mais informações sobre os pescadores de Timor de 42 mil anos atrás:

http://www.rawstory.com/rs/2012/01/15/study-shows-humans-were-skilled-fishermen-42000-years-ago/

O comércio de obsidiana, no mar Egeu, 12 mil anos atrás:

http://www.stonepages.com/news/archives/004698.html

Megafauna extinta e vestígios humanos nos cenotes do México:

http://www.oem.com.mx/elsoldemexico/notas/n2393904.htm

sábado, 14 de janeiro de 2012

Notícias diversas

Aqui vão mais algumas notícias sobre trabalhos subaquáticos, veiculadas nos dois últimos meses, mas que não puderam ser aqui postadas.

Naufrágio da Antiguidade em Mazotos, Chipre:
http://your-story.org/mazotos-underwater-archaelogical-research-second-excavation-completed-295263/

Naufrágios dos séculos XV a XVIII encontrados no porto de Estocolmo, Suécia:
http://www.thelocal.se/38042/20111220/

Barcos da Idade do Bronze escavados na Inglaterra:
http://www.guardian.co.uk/science/2011/dec/04/bronze-age-archaeology-fenland

Ficha de bordel da época romana localizada no rio Tâmisa, Londres, Inglaterra (foi a primeira do tipo localizada na Inglaterra e deu o que falar - muitas notícias associadas):
http://www.telegraph.co.uk/earth/8991212/Roman-brothel-token-discovered-in-Thames.html

Escavações nas ruínas do primeiro assentamento quinhentista euro-indígena na Argentina (parte dele erodido pelas águas):
http://www.revistaenie.clarin.com/ideas/Ruinas_de_primer_asentamiento_europeo_en_Argentina_0_617938409.html 

quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

Nota de falecimento do arqueólogo André Penin

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É com grande pesar que posto esta nota, informando que hoje foi encontrado o corpo de André Penin, pesquisador da Unir, de Rondônia. Ele estava desaparecido desde o dia 9.

A comunidade arqueológica está consternada. Espera-se que as investigações para a elucidação desse crime hediondo sejam tão rigorosas quanto aquelas que foram desenvolvidas pelo pesquisador.

E que a verdade surja e prevaleça.

segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

Prática controversa na República Dominicana

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Notícia sobre práticas oficiais de exploração do Patrimônio Cultural Subaquático.
Sem dúvida vai na contra-mão da Convenção da UNESCO de 2001 sobre a Proteção do Patrimônio Cultural Subaquático.

sábado, 7 de janeiro de 2012

Preservação dos Tototós de Aracaju, SE

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Boa notícia para os sergipanos: os barcos que fazem a travessia de Aracaju para Barra dos Coqueiros, popularmente conhecidos por Tototós (em razão do barulho dos motores) serão classificados como patrimônio do estado.

quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

Arqueo Sub Nova - Naufrágios localizados durante dragagem em Ribadeo, Espanha

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A localização de grande quantidade de naufrágios, dentre eles uma embarcação seiscentista do norte da Europa, foi possível graças aos trabalhos voltados à elaboração de uma carta arqueológica da costa de Lugo, Galícia, Espanha, financiado pelos governos provincial e nacional.

Destaque é dado para o fato de que, na mesma 'ría' - o que seria um ambiente estuarino/ lagunar para nós - de Ribadeo, durante o acompanhamento arqueológico de trabalhos de dragagem foram localizados vestígios de madeira e chumbo que correspondem a pelo menos um navio afundado, que pode ser um galeão.
  
Note-se que os vestígios apareceram no talude de área que não estava sendo escavada pela primeira vez, o que reforça a necessidade da implementação de monitoramentos arqueológicos durante esse tipo de empreendimento, mesmo em zonas já impactadas por escavações anteriores, pois sempre há a possibilidade do equipamento ter que retificar as laterais da área dragada para minimizar os efeitos dos escorregamentos de sedimentos que rolam das porções mais rasas do fundo marinho.

Arqueo Sub Dica - Thames Discovery Program

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Importante programa de arqueologia desenvolvido no rio Tâmisa, na Inglaterra. Note-se que muitos dos registros são feitos sem mergulho e com a ajuda de voluntários.
Prova cabal de que a arqueologia dos ambientes úmidos não precisa de 'rios' de recursos para funcionar bem.

Dá para acompanhá-los no Facebook e no Twitter também.

Arqueo Sub Novas - preservação de naufrágio da Guerra Civil na Flórida

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Naufrágio de pequena embarcação utilizada na Guerra Civil norte-americana, ocorrido depois do conflito, em 1866, pode se transformar no 12º. sítio arqueológico subaquático integrante do 'Florida's Underwater Preserve Program'. Interessante notar que há uma ação coordenada entre Estado, Forças Armadas, instituições científicas e a comunidade do mergulho.

Mais notícias relacionadas:

http://www2.tbo.com/news/news/2012/jan/04/union-warships-profile-rising-ar-343382/

Nesta notícia é interessante perceber que a Marinha abriu uma concessão inédita para a proteção 'civil' do sítio, pois ela o considera um túmulo de guerra onde pereceu toda a tripulação.
A despeito do fato se desenrolar no estado onde aconteceu toda a querela do Atocha, nos anos 80, este é um bom exemplo de que pode haver solução preservacionista para os sítio submersos sem medidas de restrição ao mergulho ou a comercialização de seus despojos.

quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

Ainda o canhão do Itabapoana

O Rodrigo Torres, colega de profissão e ora doutorando na Texas A&M University, nos EUA, coloca boas perguntas sobre a identificação do canhão utilizado para amarração em Barra do Itabapoana, RJ, tema da última postagem deste Blog.
A primeira pergunta se refere sobre a forma de carregar a arma. O canhão é de antecarga, ou seja, de carregar pela boca. Canhões de carga pela culatra - tais como são municiados os canhões contemporâneos - são peças menos elaboradas do que esta, muito embora o padrão Armstrong já seja bastante 'limpo' para sua época. Também não foram identificadas raias na boca do cano, o que indica a idade da peça. Na segunda metade do século XIX, praticamente não mais eram fabricados canhões de cano liso, principalmente a partir das décadas de 1860-1870, época em que começaram a se popularizar os canhões de carregar pela culatra.  
Continuando, como a maior parte da peça do Itabapoana está enterrada - justamente a porção que daria mais informações sobre ela - identifiquei-a pela simples comparação com outras, tais como as existentes em São Sebastião e Cananéia, no litoral norte e sul de SP, respectivamente. Outro fator que leva a considerar o canhão do Itabapoana como sendo do padrão Armstrong é a imensa difusão que esse tipo de peça de artilharia teve no litoral brasileiro no início do século XIX.
Infelizmente o estado de conservação do canhão de Barra do Itabapoana não é dos melhores, o que não garante a certeza absoluta de identificação. Mas vejamos as similaridades.
Antes, eis uma taxionomia dos canhões de antecarga publicada no periódico 'O Arqueólogo Português' (lamento ter esquecido o ano e o número, mas quem quiser pode procurar na minha dissertação de mestrado) para facilitar a compreensão:

O canhão do Itabapoana tem a tulipa e a bolada característica do padrão Armstrong, como pode ser depreendido a partir das imagens dos canhões abaixo:

Canhão de Barra do Itabapoana;

Este é um dos canhões da praça central de Cananéia, fotografado por mim em 2000. Destaque para a linha transversal que forma o bocel da tulipa, bastante parecido com o do canhão do Itabapoana.

Já este é um dos canhões de São Sebastião, do mesmo padrão do de Cananéia, também fotografado por mim em 2000. Note-se o bocel da bolada, a linha transversal próxima à moldura do 2º reforço, à altura do munhão. Aparentemente o canhão do Itabapoana possui um indício do bocel da bolada, praticamente desaparecido em razão de séculos da fricção das amarras dos barcos.
Bom, este é um tema que rende bastante e daria para continuar abordando diversos outros aspectos do assunto. Como eu disse antes, não dá para ter certeza absoluta da identidade da peça, mas todos os indícios levam a crer que ela seja mesmo desse padrão.