Decapando até debaixo d'água (Local: Palhoça, SC; foto: L. Duran, 2008)

domingo, 29 de janeiro de 2012

Porto de Barra do Itapemirim, Marataízes, ES

Essas fotos são da área do porto de Barra do Itapemirim, município de Marataízes, ES. Foram tiradas no final do ano passado. Embora o local continue a ser utilizado como porto de pesca e área de lazer/ cultura, ainda falta muito para uma revitalização completa, incluindo o restauro do edifício do Trapiche que, no mínimo, precisa de um trabalho de consolidação das ruínas.

 
Palácio das Águias restaurado

O Trapiche, em ruínas
O antigo porto de Itapemirim apresenta estruturas muito interessantes para a compreensão da dinâmica dos portos médios, pois ele teve um movimento considerável até meados do século XX – maior que o porto de Benevente (atual Anchieta), mas menor que o de Vitória. Como parte dos meios de transporte que promoveram o seu desenvolvimento temos as linhas regulares de navegação marítima a vapor – desde meados do século XIX – além de uma linha de navegação fluvial a vapor que chegava até Cachoeiro do Itapemirim.
Saiba mais sobre a navegação fluvial:
Soma-se a elas a abertura de uma ferrovia, que nas primeiras décadas do século XX conectou o porto a Marataízes, a Itapemirim (sede), às usinas de cana-de-açúcar, tal como a Paineiras, até hoje em funcionamento e, por fim, Cachoeiro.
Saiba mais sobre a ferrovia:

Estrutura do cais de pedra, na área do Trapiche

E para que tudo isso funcionasse em conjunto foram construídas estruturas, equipamentos e edificações que faziam a intermediação entre a terra e a água, entre a carga e descarga das mercadorias, entre o embarque e o desembarque dos passageiros.
Muro de pedra do cais do Trapiche

Prolongação do cais do Trapiche. Pilares para sustentar os trilhos da ferrovia?

Escada e rampa de acesso do cais do Trapiche ao rio 
Apesar do porto de Barra do Itapemirim ter essas ruínas remanescentes do cais construído sob a lógica capitalista, sobrevivem algumas atividades e paisagens que remetem a tempos anteriores.
 
Estaleiro com a igreja de N. S. dos Navegantes ao fundo
Assim, tendo como base o que ainda se pode ver no local, acredito que o porto de Barra de Itapemirim guarda um grande potencial arqueológico, tanto em sua porção emersa, quanto embaixo d’água.

segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Simpósio "Arqueologias marítimas: desafios, práticas, ética e função social"

Como parte da programação da VI Reunião de Teoria Arqueológica da América do Sul, que vai acontecer entre os dias 17 e 21 de setembro deste ano, na cidade de Goiânia, previu-se a realização de um simpósio sobre Arqueologia marítima, organizado pelos arqueólogos Leandro Duran e Gilson Rambelli. As inscrições de trabalhos vão até o dia 29 de fevereiro.

Para mais detalhes, clique:

http://vitaas.blogspot.com/p/eventos.html

Um mergulho na Arqueologia subaquática brasileira

Clique no título da postagem para ler o artigo de Gilson Rambelli, publicado no jornal Arqueologia em Debate, da Sociedade de Arqueologia Brasileira - SAB.

Um pouco de pré-história subaquática

Construção de réplica de barco da Idade do Bronze (não é exatamente pré-história):

http://www.stonepages.com/news/archives/004692.html

Mais informações sobre os pescadores de Timor de 42 mil anos atrás:

http://www.rawstory.com/rs/2012/01/15/study-shows-humans-were-skilled-fishermen-42000-years-ago/

O comércio de obsidiana, no mar Egeu, 12 mil anos atrás:

http://www.stonepages.com/news/archives/004698.html

Megafauna extinta e vestígios humanos nos cenotes do México:

http://www.oem.com.mx/elsoldemexico/notas/n2393904.htm

sábado, 14 de janeiro de 2012

Notícias diversas

Aqui vão mais algumas notícias sobre trabalhos subaquáticos, veiculadas nos dois últimos meses, mas que não puderam ser aqui postadas.

Naufrágio da Antiguidade em Mazotos, Chipre:
http://your-story.org/mazotos-underwater-archaelogical-research-second-excavation-completed-295263/

Naufrágios dos séculos XV a XVIII encontrados no porto de Estocolmo, Suécia:
http://www.thelocal.se/38042/20111220/

Barcos da Idade do Bronze escavados na Inglaterra:
http://www.guardian.co.uk/science/2011/dec/04/bronze-age-archaeology-fenland

Ficha de bordel da época romana localizada no rio Tâmisa, Londres, Inglaterra (foi a primeira do tipo localizada na Inglaterra e deu o que falar - muitas notícias associadas):
http://www.telegraph.co.uk/earth/8991212/Roman-brothel-token-discovered-in-Thames.html

Escavações nas ruínas do primeiro assentamento quinhentista euro-indígena na Argentina (parte dele erodido pelas águas):
http://www.revistaenie.clarin.com/ideas/Ruinas_de_primer_asentamiento_europeo_en_Argentina_0_617938409.html 

quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

Nota de falecimento do arqueólogo André Penin

Clique no título da postagem para outras informações.

É com grande pesar que posto esta nota, informando que hoje foi encontrado o corpo de André Penin, pesquisador da Unir, de Rondônia. Ele estava desaparecido desde o dia 9.

A comunidade arqueológica está consternada. Espera-se que as investigações para a elucidação desse crime hediondo sejam tão rigorosas quanto aquelas que foram desenvolvidas pelo pesquisador.

E que a verdade surja e prevaleça.

segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

Prática controversa na República Dominicana

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Notícia sobre práticas oficiais de exploração do Patrimônio Cultural Subaquático.
Sem dúvida vai na contra-mão da Convenção da UNESCO de 2001 sobre a Proteção do Patrimônio Cultural Subaquático.

sábado, 7 de janeiro de 2012

Preservação dos Tototós de Aracaju, SE

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Boa notícia para os sergipanos: os barcos que fazem a travessia de Aracaju para Barra dos Coqueiros, popularmente conhecidos por Tototós (em razão do barulho dos motores) serão classificados como patrimônio do estado.

quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

Arqueo Sub Nova - Naufrágios localizados durante dragagem em Ribadeo, Espanha

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A localização de grande quantidade de naufrágios, dentre eles uma embarcação seiscentista do norte da Europa, foi possível graças aos trabalhos voltados à elaboração de uma carta arqueológica da costa de Lugo, Galícia, Espanha, financiado pelos governos provincial e nacional.

Destaque é dado para o fato de que, na mesma 'ría' - o que seria um ambiente estuarino/ lagunar para nós - de Ribadeo, durante o acompanhamento arqueológico de trabalhos de dragagem foram localizados vestígios de madeira e chumbo que correspondem a pelo menos um navio afundado, que pode ser um galeão.
  
Note-se que os vestígios apareceram no talude de área que não estava sendo escavada pela primeira vez, o que reforça a necessidade da implementação de monitoramentos arqueológicos durante esse tipo de empreendimento, mesmo em zonas já impactadas por escavações anteriores, pois sempre há a possibilidade do equipamento ter que retificar as laterais da área dragada para minimizar os efeitos dos escorregamentos de sedimentos que rolam das porções mais rasas do fundo marinho.

Arqueo Sub Dica - Thames Discovery Program

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Importante programa de arqueologia desenvolvido no rio Tâmisa, na Inglaterra. Note-se que muitos dos registros são feitos sem mergulho e com a ajuda de voluntários.
Prova cabal de que a arqueologia dos ambientes úmidos não precisa de 'rios' de recursos para funcionar bem.

Dá para acompanhá-los no Facebook e no Twitter também.

Arqueo Sub Novas - preservação de naufrágio da Guerra Civil na Flórida

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Naufrágio de pequena embarcação utilizada na Guerra Civil norte-americana, ocorrido depois do conflito, em 1866, pode se transformar no 12º. sítio arqueológico subaquático integrante do 'Florida's Underwater Preserve Program'. Interessante notar que há uma ação coordenada entre Estado, Forças Armadas, instituições científicas e a comunidade do mergulho.

Mais notícias relacionadas:

http://www2.tbo.com/news/news/2012/jan/04/union-warships-profile-rising-ar-343382/

Nesta notícia é interessante perceber que a Marinha abriu uma concessão inédita para a proteção 'civil' do sítio, pois ela o considera um túmulo de guerra onde pereceu toda a tripulação.
A despeito do fato se desenrolar no estado onde aconteceu toda a querela do Atocha, nos anos 80, este é um bom exemplo de que pode haver solução preservacionista para os sítio submersos sem medidas de restrição ao mergulho ou a comercialização de seus despojos.

quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

Ainda o canhão do Itabapoana

O Rodrigo Torres, colega de profissão e ora doutorando na Texas A&M University, nos EUA, coloca boas perguntas sobre a identificação do canhão utilizado para amarração em Barra do Itabapoana, RJ, tema da última postagem deste Blog.
A primeira pergunta se refere sobre a forma de carregar a arma. O canhão é de antecarga, ou seja, de carregar pela boca. Canhões de carga pela culatra - tais como são municiados os canhões contemporâneos - são peças menos elaboradas do que esta, muito embora o padrão Armstrong já seja bastante 'limpo' para sua época. Também não foram identificadas raias na boca do cano, o que indica a idade da peça. Na segunda metade do século XIX, praticamente não mais eram fabricados canhões de cano liso, principalmente a partir das décadas de 1860-1870, época em que começaram a se popularizar os canhões de carregar pela culatra.  
Continuando, como a maior parte da peça do Itabapoana está enterrada - justamente a porção que daria mais informações sobre ela - identifiquei-a pela simples comparação com outras, tais como as existentes em São Sebastião e Cananéia, no litoral norte e sul de SP, respectivamente. Outro fator que leva a considerar o canhão do Itabapoana como sendo do padrão Armstrong é a imensa difusão que esse tipo de peça de artilharia teve no litoral brasileiro no início do século XIX.
Infelizmente o estado de conservação do canhão de Barra do Itabapoana não é dos melhores, o que não garante a certeza absoluta de identificação. Mas vejamos as similaridades.
Antes, eis uma taxionomia dos canhões de antecarga publicada no periódico 'O Arqueólogo Português' (lamento ter esquecido o ano e o número, mas quem quiser pode procurar na minha dissertação de mestrado) para facilitar a compreensão:

O canhão do Itabapoana tem a tulipa e a bolada característica do padrão Armstrong, como pode ser depreendido a partir das imagens dos canhões abaixo:

Canhão de Barra do Itabapoana;

Este é um dos canhões da praça central de Cananéia, fotografado por mim em 2000. Destaque para a linha transversal que forma o bocel da tulipa, bastante parecido com o do canhão do Itabapoana.

Já este é um dos canhões de São Sebastião, do mesmo padrão do de Cananéia, também fotografado por mim em 2000. Note-se o bocel da bolada, a linha transversal próxima à moldura do 2º reforço, à altura do munhão. Aparentemente o canhão do Itabapoana possui um indício do bocel da bolada, praticamente desaparecido em razão de séculos da fricção das amarras dos barcos.
Bom, este é um tema que rende bastante e daria para continuar abordando diversos outros aspectos do assunto. Como eu disse antes, não dá para ter certeza absoluta da identidade da peça, mas todos os indícios levam a crer que ela seja mesmo desse padrão.