Decapando até debaixo d'água (Local: Palhoça, SC; foto: L. Duran, 2008)

quinta-feira, 10 de novembro de 2011

ArqueoSub dicas: Casa do Povoador, Piracicaba, SP

Estas fotos são de 2009, da primeira vez que fui à Piracicaba, jantar um excelente peixe na rua do Porto. Muito embora o topônimo "rua do Porto" pudesse ser o foco óbvio desta postagem, pretendo tratar de assunto menos evidente: a Casa do Povoador, bem tombado pelo estado desde a década de 1970. Construída no século XVIII, situa-se na margem esquerda do rio Piracicaba e pode ter tido importância como centro de atividade náutica na época das monções para Cuiabá.


Segundo Heloísa L. Bellotto em seu livro Autoridade e conflito no Brasil colonial: o governo do Morgado de Mateus em São Paulo, Piracicaba teve como uma de suas atividades econômicas principais, antes do ciclo do açúcar e do café, a construção de canoas e, talvez, batelões, os quais foram largamente utilizados nas monções, expedições fluviais que partiam principalmente de Porto Feliz, no rio Tietê, com destino à Cuiabá (e vice-versa). Essas embarcações, escavadas em um único tronco de árvore, eram o resultado de um saber naval híbrido, oriundo das culturas indígenas, européias e africanas. Hoje são conhecidas como embarcações monóxilas, ou sejas, feitas de um tronco só.

Uma vez que a Casa do Povoador está a poucos metros do rio, não poderia ter existido, anexo a ela, um estaleiro para a construção das embarcações das monções? Todas as evidências parecem combinar a favor disso: a casa situada nas primeiras cotas a salvo das cheias do rio; a jusante das últimas grandes corredeiras; tendo um remanso diante de si, onde até hoje pequenas embarcações descansam; além de estar muito próxima do final da rua São José. Essa rua, além de ligar diretamente a Casa até a praça principal da cidade, possui uma denominação muito interessante: no Mato Grosso, o dia de São José, 19 de março, marca o máximo das cheias dos rios da região. Assim, no local da Casa do Povoador estão reunidas muitas referências que, juntas, indicam uma íntima relação entre a Casa e as atividades náuticas. Falta agora a realização de pesquisas arqueológicas, a exemplo do que aconteceu neste ano, no Engenho Central, no entorno da Casa e de lá até a beira do rio, com a finalidade de buscar novas informações materiais sobre as atividades que eram desenvolvidas naquela interface terra/ água. Infelizmente as pesquisas subaquáticas, lá, ficariam prejudicadas pela poluição das águas, mas o potencial do fundo do rio em conter vestígios arqueológicos é muito alto, como mostram as evidências do passado, e as do presente, sintetisadas pela foto abaixo. Afinal, onde ancoram barcos hoje, podem ter ancorado outras embarcações no passado.
Finalizando, apesar da poluição das águas prejudicar as prospecções diretas, com arqueólogos-mergulhadores, resta a opção de um levantamento geofísico do fundo do rio, o qual poderia fornecer muitos dados dos eventuais depósitos arqueológicos submersos.


 Fica aí a dica de pesquisa arqueológica futura para o rio Piracicaba.

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