Barra do Itabapoana é um distrito do município de São Francisco de Itabapoana. Como o nome sugere, fica na margem direita do rio Itabapoana. A margem esquerda do rio já pertence ao Espírito Santo.
Barra possui um pequeno, mas ativo porto pesqueiro, o qual remonta aos tempos coloniais, certamente. Digo isso em razão das evidências que o cercam, do patrimônio cultural materializado em suas ruas, nas margens do rio e na zona rural. Dentre elas se destaca uma que, possivelmente é a única remanescente do tipo no Brasil: um canhão de antecarga, enterrado no muro do antigo cais principal da localidade, que serve até hoje para a amarração das embarcações.
É um canhão inglês, provavelmente de calibre 12, e do tipo Armstrong, padrão que vigorou entre as décadas de 1720 e 1790 nas forças armadas do império britânico. No início do século XIX, milhares deles, já imprestáveis para as forças inglesas, foram vendidos para as marinhas e os exércitos da América do Sul, o que inclui o Brasil. Como resultado dessa distribuição maciça das peças de padrão Armstrong, muitas das cidades litorâneas do país possuíam, na década de 1820, pelo menos uma peça desse tipo para a defesa de seus portos.
Com a obsolecência desse armamento, ficava um problema: o que fazer com essa montanha de ferro que não poderia ser 'reciclada', em razão do excesso de enxofre em sua composição? Muitos foram jogados no mar, outros enterrados e alguns outros utilizados para a amarração de embarcações, pois seriam perfeitos para a tarefa quando parcialmente infincados no cais. Eu já havia visto fotos antigas com os canhões utilizados dessa maneira, mas julgava que esses arranjos hoje não mais existissem.
E o mais interessante de tudo: o canhão continua sendo utilizado para a amarração das embarcações! Isso sim é um bom exemplo do uso social do patrimônio arqueológico histórico!